quinta-feira, 29 de maio de 2014

Curso de Mergulho Noturno (Night Dive)

Uma pergunta muito frequente quando saio para checar um grupo de mergulhadores do curso básico no mar é: “Por que você vai mergulhar à noite?”. Bom, existem vários motivos, mas para mim dois deles são os principais: primeiro porque é mais uma oportunidade para mergulhar; depois, porque muitos animais têm hábitos noturnos e só podem ser observados durante mergulhos à noite. Outros motivos seriam: a simples curiosidade de ver o mundo aquático sob outro ponto de vista, saber como é à noite o mesmo ponto de mergulho que você visitou durante o dia e capturar as mais belas imagens subaquáticas, já que é necessário utilizar lanternas e flashes durante o mergulho noturno.

No curso de mergulho noturno da PADI, você vai aprender a utilizar novos equipamentos, (lanternas, bússola, strobo, etc), como planejar seu mergulho, como lidar com o stress, como é feita a comunicação e as melhores técnicas para mergulho noturno. Não é necessário ser certificado como mergulhador avançado para iniciar este curso. Se você é mergulhador certificado Open Water Diver (nível básico), você está habilitado para iniciar o curso de mergulho noturno. Se você ainda não é mergulhador, confira a matéria Curso de Mergulho Básico e saiba como iniciar seu curso.

Para se tornar um Night Diver Specialist, você precisa cumprir as aulas teóricas e realizar pelo menos três mergulhos noturnos em águas abertas (no mar, preferencialmente). Mas, geralmente, os mergulhadores iniciam suas aventuras noturnas no check-out do curso de mergulho avançado. Confira a matéria Curso Avançado de Mergulho.

Equipamentos
Para o mergulho noturno você vai precisar de duas lanternas (uma principal e uma reserva), uma bússola e, opcionalmente, um strobo.

Durante o mergulho noturno, sua visão é possibilitada pela luz da lanterna. Portanto, você precisa garantir que terá luz suficiente para retornar a superfície e depois para o barco ou para praia. Por isso você precisa de duas lanternas: caso uma falhe, você tem uma reserva para encerrar o mergulho com segurança. O strobo é um equipamento opcional, porém pode ser muito útil caso as duas lanternas venham a falhar. Ele ajuda a localizar seu dupla e funciona como uma terceira fonte de luz.

A orientação subaquática através de referências naturais também é dificultada. Este é o motivo de se ter que utilizar uma bússola durante o mergulho noturno. É através dela que sabemos exatamente para onde estamos indo e para onde devemos voltar, principalmente.

Uma dica importante: NUNCA INAUGURE SEU EQUIPAMENTO EM UM MERGULHO NOTURNO! Teste seu equipamento em um ambiente mais raso e durante o dia antes de utilizá-lo no mergulho noturno.

Planejamento e Ambiente
Aqui estão algumas recomendações para elaborar seu plano de mergulho:
-       Sigas as mesmas orientações de um mergulho durante o dia: inicie seu mergulho contra a corrente, estabeleça o momento de iniciar o retorno ao barco/praia, permaneça dentro de seus limites, etc;
-         Deixe alguém avisado que você irá mergulhar à noite: sempre informe alguém que não irá mergulhar sobre seu plano de mergulho, fornecendo informações do local, hora de entrada, hora de retorno, etc;
-          Revise os sinais e os procedimentos de segurança;
-          Dê preferência por mergulhar em um local onde você já tenha mergulhado durante o dia;
-          Prepare o equipamento antes da hora: monte seu equipamento com a luz do dia, preferencialmente;
-          Alimente-se;
-          Mergulhe com uma dupla conhecida.

Estresse
No mergulho noturno o estresse é um fator importante e que deve ser levado em consideração no seu planejamento. Procure saber o que pode causar o estresse do mergulhador em um mergulho a noite e como lidar com isso. Para aumentar sua segurança, saiba o que fazer caso sua lanterna venha a falhar, você se separe da sua dupla ou fique desorientado.
Lembre-se que ao retornar do mergulho noturno você pode sentir frio. Portanto, considere levar uma roupa adequada ou bebidas quentes para quando você retornar ao barco/praia.

Técnicas de Mergulho Noturno
Para aumentar sua segurança durante o mergulho noturno, é preciso conhecer o melhor modo de entrar e sair da água, tanto à partir de um barco quanto à partir da praia. Discuta isto com sua dupla e inclua em seu planejamento de mergulho.

Uma dica importante: ligue sua lanterna antes de entrar na água!

O curso de mergulho noturno da PADI é um dos mais procurados por ser uma das modalidades de mergulho mais prazerosas.

Agora é só procurar um bom profissional e começar seu curso de mergulho noturno!

Para saber como começar seu curso, entre em CONTATO!

A seguir, algumas fotos tiradas durante um mergulho noturno em Ilha Grande, RJ.









quarta-feira, 28 de maio de 2014

Lebres-do-mar (Aplysia sp.)

As lebres-do-mar (Figura 1) são organismos pertencentes ao grupo dos Gastrópodes, caracterizados por apresentar concha reduzida ou mesmo ausente (Ruppert et al, 2005). No Brasil, podem ser encontradas desde Fortaleza (CE) até a costa do estado de São Paulo (Assis et al, 1998), em regiões entre-marés e infralitoral, tanto em recifes de coral quanto em costões rochosos, mas são adaptados a todos os tipos de substrato e ainda podem viver na coluna d’água (Ruppert et al, 2005; Assis et al, 1998). As lebres-do-mar podem atingir cerca de 60cm de comprimento e pesar até 2kg.

Figura 1 - Aplysia sp. Imagem capturada durante mergulho noturno 
em Ilha Grande, RJ.
Possuem várias denominações:  lesma-do-mar, lebre-do-mar, tinteiro, tintureiro (Assis et al, 1998).

Animais da subclasse Opistobrânquia, podem apresentar estratégias evolutivas interessantes, possibilitadas pela perda ou redução da concha. Tais estratégias são: escavação, natação, defesa química, etc. O exemplo mais comum é a liberação de tinta púrpura defensiva, derivada de pigmentos oriundos de consumo de algas vermelhas (Bezerra et al., 2004; Ruppert et al, 2005; Contreras, 2008). Alguns destes animais também são capazes de se deslocar por propulsão a jatos d’água proporcionada pelo sifão exalante formado a partir do enrolamento da margem posterior do manto (Figura 2; Ruppert et al, 2005). 

Em geral, as lebres-do-mar são animais herbívoros com grande capacidade de alimentação, que exercem forte influencia na estruturação de cadeias tróficas marinhas e na distribuição e abundância de macroalgas bentônicas consumidas por elas (Contreras, 2008).

Sua classificação pode ser dada como no esquema a seguir:

Filo: Mollusca
Classe: Gastropoda
Subclasse: Opistobranchia
Ordem: Anaspidea
Familia: Aplysiidae
               Genero: Aplysia

Possuem dois pares de tentáculos sensoriais, sendo que os orais são largos e mais curtos. Os tentáculos posteriores são chamados de rinóforos e, próximos a sua base, localizam-se os olhos, responsáveis por perceberem a alteração na intensidade de luz do ambiente. O pé define a região ventral e é utilizado para rastejar; pode se modificar lateralmente em expansões denominadas parapódios, atuando em movimentos natatórios (Vídeo 1). A massa visceral esta localizada entre os parapódios e revestida pelo manto, cuja cavidade se encontra no lado direito do corpo e abriga a brânquia, o ânus e a abertura genital hermafrodita. A brânquia é única, ramificada e dobrada (Ruppert et al, 2005, Contreras, 2008) (Figura 2).

Figura 2 - A lebre-do-mar Aplysia sp. Retirado de Ruppert et al, 2005.

Vídeo 1 - Lebre-do-mar nadando. É possível observar o movimento dos parapódios, 
possibilitando a locomoção na coluna d'água.

Uma de suas características marcantes é o hermafroditismo. Porém, não produzem óvulos e espermatozoides simultaneamente, consequentemente, não ocorrendo a autofecundação. A fecundação ocorre através da transferência recíproca de espermatozoides (Ruppert et al, 2005, Contreras, 2008).

As lebres-do-mar apresentam células nervosas bastante grandes e agregam-se para formar um gânglio, sendo facilmente identificáveis. Isso é útil porque permite aos pesquisadores estimular as células nervosas individualmente com neurotransmissores e microeletrodos, facilitando o mapeamento das funções específicas no sistema nervoso desses animais, contribuindo para o desenvolvimento de estudos de eventos moleculares que ocorrem durante a transmissão dos impulsos nervosos e da biologia do aprendizado e da memória (Castro & Huber, 2012).

Referências bibliográficas
Assis, R. C. F; Madeira, A. V.; Dias, A. L. O. 1998. Projeto QUALIBIO – UFBA http://www.qualibio.ufba.br/042.html acessado em 28/05/2014.

Bezerra, L. E. A.; Carvalho, A. F. U.; Barreira, L. A.; Nogueira, V. L. R.; Silva, J. R. F.; Vasconcelos, I. M.; Melo, V. M. M. 2004. The relationship between seaweed diet and purple ink production in Aplysia dactylomela Rang, 1828 (Gastropoda: Opistobranchia) from northeastern Brazil. Journal of Shellfish Research, 23: 581-584.

Castro, P.; Huber, M. E. 2012. Biologia Marinha. 8° Edição. AMGH Editora Ltda. 460p.

Contreras, A. 2008. Preferência alimentar de espécies de Aplysia sp. sobre macroalgas marinhas. Monografia apresentada ao Curso de Graduacao de Ciencias Biologicas da Universidade Federal Fluminense. 48p.

Ruppert, E. E.; Fox, R. S.; Barnes, R.D. 2005. Zoologia dos Invertebrados: uma abordagem functional/evolutiva. 7° Edição. Cap. 12 Mollusca. Ed. Roca Ltda. 392p.