As lebres-do-mar (Figura 1) são organismos pertencentes ao grupo dos
Gastrópodes, caracterizados por apresentar concha reduzida ou mesmo
ausente (Ruppert et al, 2005). No Brasil, podem ser encontradas desde Fortaleza
(CE) até a costa do estado de São Paulo (Assis et al, 1998), em regiões entre-marés
e infralitoral, tanto em recifes de coral quanto em costões rochosos, mas são
adaptados a todos os tipos de substrato e ainda podem viver na coluna d’água (Ruppert
et al, 2005; Assis et al, 1998). As lebres-do-mar podem atingir cerca de 60cm
de comprimento e pesar até 2kg.
Figura 1 - Aplysia sp. Imagem capturada durante mergulho noturno
em Ilha Grande, RJ.
Possuem várias denominações: lesma-do-mar,
lebre-do-mar, tinteiro, tintureiro (Assis et al, 1998).
Animais da subclasse Opistobrânquia, podem
apresentar estratégias evolutivas interessantes, possibilitadas pela perda ou redução da concha. Tais estratégias são: escavação, natação, defesa química,
etc. O exemplo mais comum é a liberação de tinta púrpura defensiva, derivada
de pigmentos oriundos de consumo de algas vermelhas (Bezerra et al., 2004; Ruppert
et al, 2005; Contreras, 2008). Alguns destes animais também são capazes de se deslocar por propulsão
a jatos d’água proporcionada pelo sifão exalante formado a partir do
enrolamento da margem posterior do manto (Figura 2; Ruppert et al, 2005).
Em geral, as lebres-do-mar são animais herbívoros com grande
capacidade de alimentação, que exercem forte influencia na estruturação de
cadeias tróficas marinhas e na distribuição e abundância de macroalgas bentônicas
consumidas por elas (Contreras, 2008).
Sua classificação pode ser dada como no esquema a seguir:
Filo: Mollusca
Classe: Gastropoda
Subclasse:
Opistobranchia
Ordem:
Anaspidea
Familia:
Aplysiidae
Genero: Aplysia
Possuem dois pares de tentáculos sensoriais, sendo que os
orais são largos e mais curtos. Os tentáculos posteriores são chamados de rinóforos
e, próximos a sua base, localizam-se os olhos, responsáveis por perceberem a alteração
na intensidade de luz do ambiente. O pé define a região ventral e é utilizado
para rastejar; pode se modificar lateralmente em expansões denominadas parapódios,
atuando em movimentos natatórios (Vídeo 1). A massa visceral esta localizada entre
os parapódios e revestida pelo manto, cuja cavidade se encontra no lado direito
do corpo e abriga a brânquia, o ânus e a abertura genital hermafrodita. A brânquia
é única, ramificada e dobrada (Ruppert et al, 2005, Contreras, 2008) (Figura 2).
Figura 2 - A lebre-do-mar Aplysia sp. Retirado de Ruppert et al, 2005.
Vídeo 1 - Lebre-do-mar nadando. É possível observar o movimento dos parapódios,
possibilitando a locomoção na coluna d'água.
Uma de suas características marcantes é o hermafroditismo.
Porém, não produzem óvulos e espermatozoides simultaneamente, consequentemente,
não ocorrendo a autofecundação. A fecundação ocorre através da transferência recíproca
de espermatozoides (Ruppert et al, 2005, Contreras, 2008).
As lebres-do-mar apresentam células nervosas bastante
grandes e agregam-se para formar um gânglio, sendo facilmente identificáveis.
Isso é útil porque permite aos pesquisadores estimular as células nervosas
individualmente com neurotransmissores e microeletrodos, facilitando o
mapeamento das funções específicas no sistema nervoso desses animais, contribuindo
para o desenvolvimento de estudos de eventos moleculares que ocorrem durante a
transmissão dos impulsos nervosos e da biologia do aprendizado e da memória
(Castro & Huber, 2012).
Referências bibliográficas
Assis, R. C. F; Madeira, A. V.; Dias, A. L. O. 1998. Projeto
QUALIBIO – UFBA http://www.qualibio.ufba.br/042.html acessado em
28/05/2014.
Bezerra, L. E. A.; Carvalho, A. F. U.; Barreira, L. A.;
Nogueira, V. L. R.; Silva, J. R. F.; Vasconcelos, I. M.; Melo, V. M. M. 2004. The relationship between seaweed diet
and purple ink production in Aplysia dactylomela Rang, 1828 (Gastropoda: Opistobranchia)
from northeastern Brazil. Journal of Shellfish Research, 23: 581-584.
Castro, P.; Huber, M. E. 2012. Biologia Marinha. 8° Edição.
AMGH Editora Ltda. 460p.
Contreras, A. 2008. Preferência alimentar de espécies de Aplysia sp. sobre macroalgas marinhas. Monografia
apresentada ao Curso de Graduacao de Ciencias Biologicas da Universidade
Federal Fluminense. 48p.
Ruppert, E. E.; Fox, R. S.; Barnes, R.D. 2005. Zoologia dos Invertebrados: uma abordagem functional/evolutiva.
7° Edição. Cap. 12 Mollusca. Ed. Roca Ltda. 392p.
Excelentes informações! Esses bichinhos são muito curiosos com sua forma que parece um ser de outro planeta! rs...Tive a sorte de filmar um desses no mar da Bahia. Vou deixar o link aqui para quem tiver o interesse de assistir...https://www.youtube.com/watch?v=HsSouckoXXU?sub_confirmation=1
ResponderExcluirEsses animais seriam comestiveis?
ResponderExcluirJulio, não sei dizer se são comestíveis... Mas acho que não.
ExcluirExiste uma grande incidência de Lebres do Mar atualmente na região de Cabo Frio, e a dúvida que fica é se seriam comestiveis?
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