segunda-feira, 16 de junho de 2014

Correntes Marinhas

Figura 1 – Principais giros nas Bacias Oceânicas do Atlântico,
Pacífico e Índico. Fonte: NOAA, 2013.
Os Oceanos nunca “descansam”? Nunca, os Oceanos estão sempre em movimento e isto exerce grande influência em nossas vidas. Neste artigo, vou tratar de forma bem simplificada como as correntes marinhas são formadas e alguns processos envolvidos.

Os movimentos mais intensos que ocorrem nos oceanos concentram-se principalmente em sua superfície e se dão na forma de correntes (Castro & Huber, 2003). Pode-se dizer que as correntes são formadas basicamente pela energia do sol. Quando a radiação solar atinge a superfície da Terra aquece a camada de ar circundante, que se movimenta de regiões mais quentes para as mais frias, formando os ventos, que  promovem a circulação da água através do atrito gerado pelo o contato da massa de ar com a superfície dos oceanos. A elevação na temperatura da água, também ocasionada pela energia solar irradiante, altera sua densidade, originando as correntes pela diferença entre a densidade de águas quentes (menos densa) e frias (mais densa). Essas alterações na temperatura da água influenciam as taxas de evaporação e precipitação, modificando a salinidade da água do mar, consequentemente, modificando a densidade da água e gerando as correntes.

Fatores como o movimento de rotação terrestre, distribuição de calor na superfície, sazonalidade (verão/inverno), presença dos continentes também podem influenciar no fluxo das correntes.

O movimento de rotação tem efeito importante no padrão de circulação dos oceanos, promove deflexão das correntes em 45°. Esse  desvio é chamado Força de Coriolis, onde no hemisfério norte é para direita, enquanto no hemisfério sul ocorre para a esquerda.

Como a irradiação do calor na superfície terrestre não é homogênea, a energia solar atinge a Terra mais intensamente na região equatorial, fazendo com que o ar se aqueça e suba. Deste modo, o ar frio das áreas adjacentes repõe o ar aquecido, criando assim os ventos. O ar quente que sobe à atmosfera nesta região se resfria ao atingir grandes altitudes e se movimenta na direção dos polos, descendendo acerca das latitudes de 30° norte e sul (Figura 2). Mas estes ventos não fluem diretamente para a região equatorial, eles são afetados pela Força de Coriolis, atingindo esta região em um ângulo de 45°, chamados Ventos Alísios. Estes ventos ocorrem na região tropical e sopram de leste para oeste.
Figura 2 – A camada de ar na região equatorial é aquecido e ascende à atmosfera (Warm air rises from equatorial regions). O ar frio das regiões adjacentes flui no sentido do Equador, criando assim os ventos. Estes ventos são chamados e Ventos Alísios e são defletidos em 45° pela Força de Coriolis (Air blows in to replace rising air, creating trade winds). Fonte Castro & Huber, 2003.

Este movimento do ar cria células de circulação atmosférica e são chamadas de Células de Hadley. Na região subtropical, compreendida entre as latitudes de 30° e 60°, tanto norte quanto sul, o movimento do ar é oposto ao que acontece na região tropical, fluindo de oeste para leste. Nos polos, o movimento do ar muda novamente de direção e passa a soprar de leste para oeste. A Figura 3 ilustra como o ar atmosférico se movimenta sobre a superfície terrestre.
Figura 3 – Os Ventos Alísios sopram entre as latitudes de 30° norte e sul (Northeast trades e Southeast trades) e são os ventos mais constantes. Os ventos de oeste (Westerlies) estão localizados entre as latitudes de 30° e 60°, tanto norte quanto sul. Acima das latitudes de 60° sopram os ventos mais inconstantes, os ventos polares de leste (Polar easterlies). Na região equatorial (latitude 0°) sopram ventos muitos fracos, conhecidos como Doldrums. Nesta figura estão representados os padrões de ventos em uma Terra imaginária, sem a presença dos continentes. Fonte: Castro & Huber, 2003.

Os Ventos Alísios são os mais constantes sobre a superfície terrestre e são os principais responsáveis pela formação dos grandes giros oceânicos, que são sistemas circulares de corrente de superfície presentes nas bacias oceânicas. No hemisfério norte estes giros se movimentam no sentido horário, enquanto no hemisfério sul giram no sentido anti-horário.

Estes giros são os responsáveis pelo transporte de calor da região equatorial para os polos. Devido à alta capacidade térmica da água, o calor absorvido na área tropical é transportado e liberado nas regiões polares. Por outro lado, a água resfriada nos polos flui em direção à região equatorial. Dessa forma, estes giros funcionam como reguladores da temperatura e do clima na Terra (Figura 4).
Figura 4 – Maiores correntes de superfície dos oceanos, os grandes giros se localizam nas bacias oceânicas do Atlântico, Pacífico e Índico. Fonte: Castro & Huber, 2003.
Mas as correntes marinhas não transportam apenas calor, elas também são usadas por várias espécies para migrar para diferentes regiões. Se você se lembra da animação “Procurando Nemo”, a estória mostra as tartarugas marinhas utilizando a Corrente Leste Australiana para se locomover para outras áreas. Muitos animais de grande porte, como baleias por exemplo, também costumam utilizar as correntes marinhas para realizar suas migrações. Outras espécies, que possuem parte do seu ciclo de vida planctônica, são dispersadas para outras regiões através destas correntes. Outro bom exemplo é o de Amyr Klink, que se valeu do conhecimento sobre correntes marinhas para atravessar o Oceano Atlântico em um caiaque.

Assim, compreender como as correntes marinhas são formadas e os processos envolvidos neste complexo sistema são de fundamental importância para entender como o clima em nosso planeta é regulado e compreender como a vida marinha é influenciada pelo movimento dos oceanos.

Referências Bibliográficas

Castro, P.; Huber, M. E. 2003. Marine Biology. Fourth Edition. The McGraw-Hill Companies. 456p.

Colling, A. 2001. Ocean Circulation. Second Edition. The Open University. 286p.

NOAA, 2013. Ocean Currents. Ocean Explorer. Acessado em 13/06/2014. 
http://oceanexplorer.noaa.gov/edu/learning/player/lesson08.html.

Tomczak, M.; Godfrey, J. S. 2005. Regional Oceanography: An Introduction. PDF Version 1.1. 391p. 

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