sexta-feira, 27 de abril de 2012

Conhecendo os Equinodermos

(Por Marcos Pelaes)

"... a descoberta de uma estrela-do-mar ou ouriço-do-mar encalhados, dois símbolos do mar, coloca a mente no limiar do maravilhoso. Equinodermos poderiam ser variações de corpos celestes que caíram do céu como extraterrestres, tão extraordinárias são sua forma e função." Trecho retirado do livro Zoologia dos Invertebrados, Sétima Edição. Foto: Echinaster brasiliensis (imagem de Theo Costa)

Não, equinodermos não são cavalos marinhos como me perguntaram um dia...

Foto: Oreaster reticulatus (imagem de Theo Costa)
Equinodermos são organismos predominantemente marinhos (já foram descritas cerca de 7.000 espécies) e são representados pelas classes Crinoidea (Penas do mar), Asteroidea (Estrelas do mar), Ophiuroidea (Serpentes do mar), Echinoidea (Ouriços do mar e Bolachas do mar) e Holothuroidea (Pepinos do mar).

Distribuição

Habitam todas as latitudes, desde a zona de entre-marés (zona sob influência do regime de marés) até fundos abissais (as regiões mais profundas dos oceanos). Entretanto, são mais abundantes nas regiões tropicais e menos nas zonas polares, apresentam locomoção limitada e são comumente encontrados agregados em alta densidade.  (HENDLER et al, 1995; RUPPERT et al, 2005). Alguns deles possuem adaptações para se fixar em substratos consolidados, como rochas e recifes de coral, outros vivem em meio a fundos lodosos, fundos arenosos e outros exibem ainda hábito epibionte (vivem sobre animais ou plantas). 


Alimentação

Possuem representantes em vários níveis da cadeia alimentar, incluindo detritívoros (que se alimentam de detritos despositados no substrato), filtradores (material em suspensão na água), raspadores (que se alimentam de micro-organismos aderidos ao substrato), necrófagos (animais mortos) e predadores ativos (HENDLER et al., 1995; RUPPERT et al, 2005).


Características gerais

Uma característica de todos equinodermos é a presença de pés ambulacrais, que são superfícies branquiais responsáveis pela troca gasosa (respiração) através do corpo do animal, mas que podem ser utilizados para locomoção, fixação ao substrato e alimentação. (RUPPERT et al, 2005). Outra característica marcante é a grande capacidade de regeneração dos equinodermos, que com o tempo recompõem partes do corpo que foram perdidas; além disso desprendem parte do corpo ou expelem órgãos internos em resposta ao estresse, principalmente causado por predadores.

Caracteres sexuais

A maioria dos organismos do grupo Equinodermata apresenta dimorfismo sexual (único sexo por indivíduo) mas não é possível reconhecer machos e fêmeas visualmente através de caracteres físicos externos. 

Caracterização geral das Classes de Equinodermos


Fotos: Oreaster reticulatus e Echinaster brasiliensis (imagens de Theo Costa)

Asteroidea

As Estrelas do mar, representantes mais famosos do grupo Equinodermata, são os animais que apresentam maior variedade de formas. Essa diversidade depende do comprimento e largura dos braços, que podem ser estreitos, largos ou ainda inexistirem. Além dos braços, o corpo desses animais pode ser achatado, almofadado, elevado ou esférico. Sua locomoção é feita através dos pés ambulacrais situados na região ventral do animal, onde está situada sua boca, que fica voltada para o substrato. Os pés ambulacrais ainda podem ser utilizados para levar o alimento até a boca (LAWRENCE, 1987; RUPPERT et al, 2005). Ocorrem em quase todas as latitudes e profundidades e ocupam uma grande variedade de substratos (HADEL et al. 1999). A maioria das estrelas do mar alimenta-se de animais vivos, especialmente pequenos moluscos, crustáceos, poliquetas, outros equinodermos e pequenos peixes. Sua reprodução pode se dar através de regeneração, reprodução clonal ou reprodução sexuada. A reprodução por regeneração é quando um novo organismo é gerado a partir de uma parte do animal que tenha se partido (um braço, por exemplo), geralmente de forma involuntária. A reprodução clonal ocorre quando um novo organismo é gerado a partir da divisão do disco (parte central do animal), ou seja, há divisão de um único indivíduo em duas partes e no final têm-se dois novos indivíduos e, geralmente, se dá de forma voluntária. A reprodução sexuada acontece quando gametas masculinos e femininos são liberados na água, onde ocorre a fertilização (RUPPERT et al, 2005).

Foto: Echinometra lucunter (imgem de Theo Costa)

Echinoidea

Os ouriços e bolachas do mar apresentam pouca diversidade quanto à forma.  São caracterizados por terem a parede do corpo composta por placas com espinhos móveis e não possuírem braços. São tradicionalmente divididos em dois grupos: regulares e irregulares. Os equinóides regulares (ouriços do mar) têm forma globosa, geralmente circular, mas podem ser ocasionalmente ovais e, algumas vezes, ligeiramente pentagonais. Os espinhos, sua principal característica, podem variar em número, tamanho, forma e estrutura (LAWRENCE, 1987); geralmente são encontrados em substratos consolidados, como rochas e recifes de coral. Nos ouriços do mar, os pés ambulacrais são distribuídos em faixas longitudinais alternadas pelo corpo. Sua locomoção é realizada através dos movimentos dos espinhos e dos pés ambulacrais e sua alimentação é constituída basicamente de algas, mas a maioria das espécies é generalista, com sua dieta constituída de vegetais e animais.

Os equinóides irregulares (bolachas do mar) são caracterizados por sua forma achatada e apresentarem pés ambulacrais distribuídos por todo corpo. Em contraste com os ouriços do mar, possuem espinhos curtos que são utilizados para locomoção em fundos de areia ou lama, onde são comumente encontrados. Alimentam-se principalmente de partículas depositadas no substrato (material orgânico) conforme cavam o sedimento. Todos os equinóides apresentam dimorfismo sexual e sua reprodução ocorre através da liberação dos gametas na água, onde ocorre a fertilização (HENDLER et al., 1995; RUPPERT et al, 2005).
Imagem bolacha do mar (Clypeaster subdepressus): Alvaro E. Migotto. Bolacha-do-mar. Banco de imagens Cifonauta. Disponível em: http://cifonauta.cebimar.usp.br/photo/4764/ Acesso em: 2012-04-24.

Holothuroidea

Os pepinos do mar  possuem características peculiares que os distinguem facilmente dos outros equinodermos, tendo sido em determinado momento classificados como vermes. Os pepinos do mar em geral têm corpo cilíndrico. Alguns podem apresentar as extremidades do corpo levemente elevadas (como U). Seus pés ambulacrais distribuem-se ao longo de todo o corpo, sendo o lado que se apóia no substrato chamado de superfície ventral, apresentando pés ambulacrais funcionais, e seu lado oposto de superfície dorsal, com pés ambulacrais reduzidos. A maioria das espécies de pepinos do mar apresenta hábito bentônico, mas podem ser encontradas espécies com hábito epibionte e pelágico. Em geral, pepinos do mar se alimentam de material em suspensão ou depositado sobre o fundo marinho. A maior parte de suas espécies apresenta dimorfismo sexual e sua reprodução se dá através da liberação de gametas na água, onde ocorre a fertilização  (RUPPERT et al, 2005). Imagem pepino do mar (Holothuria grisea): Alvaro E. Migotto. Pepino-do-mar. Banco de imagens Cifonauta. Disponível em: http://cifonauta.cebimar.usp.br/photo/8072/ Acesso em: 2012-04-24.

Ophiuroidea 

As serpentes do mar são os mais rápidos dentre os equinodermos, uma de suas principais características. São organismos principalmente crípticos, ou seja, podem ser encontrados escondidos sob, sobre ou entre pedras, conchas, organismos vivos e sedimentos. Estão adaptados a uma grande variedade de modos de vida, e por isso quase nunca são vistos. Esses organismos podem ainda viver em simbiose com esponjas, corais, crinóides e bolachas da praia. Apesar de apresentarem pés ambulacrais, estes não possuem ventosas e raramente são usados para locomoção, sendo esta executada através dos movimentos dos braços. Os ofiuróides podem se alimentar de animais vivos ou mortos, de depósitos no substrato ou ainda de material em suspensão. A reprodução das serpentes do mar, assim como nas estrelas do mar, pode se dar através de regeneração e reprodução sexuada, embora algumas espécies possam ser hermafroditas (apresentam gônadas masculinas e femininas) e outras vivíparas (quando os ovos são incubados e o desenvolvimento  se dá dentro da mãe até que seja atingido o estágio jovem) (RUPPERT et al, 2005). Imagem Ofiuróide (Amphipholis squamata): Alvaro E. Migotto. Ofiuróide. Banco de imagens Cifonauta. Disponível em: http://cifonauta.cebimar.usp.br/photo/4252/ Acesso em: 2012-04-24.


Chrinoidea 

As penas do mar possuem hábitos sedentários ou movimentos vagarosos e são caracterizados por apresentarem longos braços em forma de penas. Fixam-se ao substrato através de um pedúnculo e se alimentam filtrando a água com seus pés ambulacrais localizados em seus braços. Diferentemente dos demais equinodermos, vivem com a boca voltada para cima, facilitando sua alimentação, uma vez que se alimentam principalmente de partículas em suspensão. Vivem geralmente em águas rasas e são comumente encontrados em comunidades de recifes de coral. Apresentam grande capacidade de regeneração e esta é uma de suas formas de reprodução, sendo a principal delas a reprodução sexuada. Em crinóides não há reprodução clonal, como nas estrelas do mar e ofiúros (RUPPERT et al, 2005).
Fotos: Tropiometra carinata (imagens de Theo Costa)


Referências Bibliográficas



HADEL, V.F.; MONTEIRO, A.M.G.; DITADI, A.S.F.; TIAGO, C.G.; TOMMASI, L.R. Echinodermata. In: Migotto, A. & Tiago, C.G. (eds.) Biodiversidade do Estado de São Paulo, Brasil: síntese do conhecimento ao final do século XX. Parte 3: Invertebrados marinhos, p. 261-271, 1999.


HENDLER, G., MILLER, J.E., PAWSON D.L. & Kier, P.M. 1995. Sea stars, sea urchins, and allies: echinoderms of Florida and the Caribbean. Washington: Smithsonian Institution Press. 391p.

LAWRENCE, J. M., 1987. A functional biology of echinoderms. The John Hopkins University Press, Baltimore, Maryland.

RUPPERT, E.E.; FOX, R. S.; BARNES, R.D.; 2005. Zoologia dos invertebrados – Uma abordagem funcional-evolutiva. São Paulo: Editora Roca, 7ª ed., 1145 pp.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Curso AVANÇADO de Mergulho


Quer expandir seus limites como mergulhador recreativo?

Isso pode ser alcançado com o Curso de Mergulho Avançado. Com a credencial de mergulhador Avançado você poderá atingir profundidades além dos 18m e adquirirá novas habilidades. Você conhecerá também alguns tipos de mergulho e será iniciado no uso de novos equipamentos para aprimoramento dos seus mergulhos.

Este post irá informar sobre O Curso de Mergulho Avançado da PADI (Professional Association of Diving Instructors), o mais procurado. Esse curso é estruturado da seguinte forma: parte teórica e parte prática, que é o Checkout (prática no mar).

Na primeira parte são faladas de cinco especialidades. Dessas, duas são obrigatórias - Mergulho Profundo e Navegação Submarina. Em seguida trata-se de outras três, que geralmente são busca e recuperação, mergulho noturno e a quinta especialidade, pode ser mergulho em multinível ou mergulho em naufrágio. Essas especialidades permitrão que você mergulhe com mais segurança na maior parte dos pontos de mergulho. Nessas especialidades serão abordados com um pouco mais de detalhe os efeitos da pressão no corpo humano e suas implicações no mergulho (Mergulho Profundo e Multi-nível), formas de orientação subaquática (Navegação submarina), procedimentos que devem ser executados em um mergulho a noite e técnicas e equipamentos utilizados ao recuperar objetos afundados.

A PADI disponibliza este curso on line, geralmente em inglês, onde você estuda toda parte teórica em casa. Nesse caso, o aluno precisa cumprir todos os requisitos do curso e imprimir um certificado que atesta o cumprimento com êxito desta etapa. Após isso, o aluno irá para parte prática no mar. Para mais detalhes sobre o curso on line, consulte um instrutor de mergulho ou uma escola de mergulho.

A segunda parte é o checkout. Geralmente é feito em um final de semana com cinco mergulhos. No primeiro dia, geralmente, é feito um mergulho profundo, um mergulho de navegação sub e um mergulho noturno. No segundo dia é feito um mergulho em multi-nível e um mergulho de busca e recuperação. Nestes mergulhos são avaliadas as habilidades do mergulhador em executar algumas tarefas exigidas em cada especialidade. Se ao invés do mergulho multinível, você optar pelo mergulho em Naufrágio, no local do checkout deve haver um naufrágio seguro para esta prática.

Ao final das duas etapas, você estará habilitado a mergulhar até 30m de profundidade e mergulhar nas modalidades apresentadas sem a supervisão de um instrutor.

Você deve estar se perguntando: "Mas e a prática em piscina?". Este curso não requer prática em piscina. O manuseio de novos equipamentos (bússola, lanterna, carretilha...) é feito fora d'água. Caso você queira praticar as habilidades na piscina, combine com seu instrutor. Isso é possível.


Mesmo que você não deseje ir mais fundo, nem executar os tipos de mergulhos citados, esse curso permite que você fique mais tranquilo para mergulhar, pois mais conhecimento promove maior segurança. É importante que fique claro que o mergulhador não será especialista nas modalidades apresentadas. Pelo sistema da PADI, os requisitos do curso Avançado são considerados mergulhos de aventura. Para se tornar um mergulhador especialista em qualquer uma das modalidades mencionadas é necessário fazer um curso de especialidade. A PADI ofecere 17 opções de especialidades. Para saber mais visite www.padi.com.

Para mais informações sobre o curso, entre em CONTATO!

Crédito das imagens: www.padi.com

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Mergulho no Rio Tietê


(por Marcos Pelaes)

Você já se imaginou mergulhando no Rio Tietê? Pois bem, eu sempre pensei como seria mergulhar neste rio tão conhecido dos paulistanos. Mas é claro que não seria aqui em São Paulo.

O rio

O rio Tietê atravessa praticamente todo o estado de São Paulo. Sua nascente encontra-se no município de Salesópolis, aproximadamente 22km do litoral, desaguando no rio Paraná, no município de Itapura depois de percorrer cerca de 1000km. Neste ponto suas águas se tornam claras e não poluídas, com boas condições de mergulho no período de estiagem, que vai de meados de Maio a Outubro.


http://www.bibliotecavirtual.sp.gov.br/saopaulo-geografia.php

Apesar da poluição observada no trecho em que o rio passa pela Região Metropolitana de São Paulo, a partir do município de Barra Bonita suas águas apresentam menos vestígios de contaminação e a transparência começa a melhorar. Mas é em Itapura que se encontram atrativos para o mergulho.

Pontos de Mergulho e História
O primeiro ponto de mergulho, o navio a vapor militar Tamandatahy está naufragado próximo a cidade de Itapura. Um naufrágio no rio Tietê! Sensacional! O município foi uma colônia militar na época do governo Imperial, em 1858. Por se localizar em uma região estratégica, a colônia foi usada como base militar na Guerra do Paraguai. Ainda hoje pode se encontrar as ruínas de um palacete construído na mesma época. Após o fim da guerra, a colônia foi abandonada, voltando a ser habitada por volta de 1910.
Foto: Palacete de Dom Pedro em http://www.ilhasolteira.com.br/colunas/index.php?acao=verartigo&idartigo=1169548311.  

O segundo ponto é a usina submersa. Talvez essa seja a única usina hidrelétrica submersa (e acessível para mergulho) do Brasil!

Na região havia uma grande queda d'água, o Salto de Itapura, onde foi construída uma pequena usina hidrelétrica, a usina de Eloy Chaves.

Em 1960, com a contrução da Usina Hidrelétrica de Jupiá no rio Paraná, abaixo da desembocadura do rio Tietê, as águas do Tietê subiram devido a formação do lago, inundando a antiga colônia e fazendo submergir a usina Eloy Chaves. 

Outro ponto criado pela elevação das águas (o terceiro) é o Salto de Itapura (Foto: Salto de Itapura em  http://www.ilhasolteira.com.br/colunas/index.php?acao=verartigo&idartigo=1169548311), que hoje se encontra submerso e acessível para mergulho.

Mas e a colônia que foi inundada? Bom, parece que ainda é possível avistar vestígios das construções, segundo informações dos moradores.

O quarto ponto de mergulho é a ponte submersa Novo Oriente. Recentemente, foi construída no rio Tietê a usina hidrelétrica de Três Irmãos, localizada no município de Pereira Barreto, cerca de 30km de Itapura. Neste município encontrava-se uma ponte em arquitetura japonesa, que hoje se encontra submersa devido a criação do lago de Três Irmãos (Fotos: Ponte Novo Oriente sendo encoberta pela água - http://www.dee.feis.unesp.br/museu/pereira_barreto/ponte/ponte_novo_oriente.html).



O mergulho

Às vésperas do feriado da Páscoa recebi um e-mail convidando para fazer um mergulho no rio Tietê, já em Itapura. Já que eu iria para Ilha Solteira, distante 35km de Itapura, para passar o feriado, prontamente respondi o e-mail para saber dos detalhes da saída e reservar minha vaga. Conhecendo as condições da água da região para a época, perguntei como estava a visibilidade para saber se valeria a pena ou não. Recebi a resposta: "... temos boas condições...". Foi o suficiente para garantir meu lugar!

A ansiedade para fazer este mergulho era grande, já que há muito tempo queria fazer um mergulho SCUBA na região. Seria apenas um mergulho desta vez, na usina submersa, mas já era o suficiente para saciar a vontade.

Com tudo pronto para partir, rumamos sentido interior. Chegamos em Ilha Solteira na quinta-feira (05/04/2012) a noite. O mergulho seria no sábado, então aproveitei a sexta-feira para revisar algumas coisas e curtir a família.

No sábado de manhã parti para Itapura. A hora marcada para nos encontrarmos era 10:30h. A pontualidade do Paulo, o instrutor que levaria para o mergulho, foi britânica. Ponto positivo! Ele chegou acompanhado do Moisés, jornalista da região que estava fazendo umas fotos para colocar no site do jornal. Logo depois chegaram mais dois mergulhadores que iriam conosco.

Partimos para o ponto, que fica logo em frente a praia da cidade. O Paulo nos falou sobre o ponto, nos equipamos na água, posamos para fotos e lá fomos nós. Enfim estava mergulhando no rio Tietê e em um local que talvez só exista ali, em Itapura. Sensacional!



O mergulho durou cerca de 45 minutos, mas foi suficiente para visualizarmos algumas estruturas da usina. Fizemos o mergulho praticamente todo do lado de fora, com apenas algumas incursões que nos permitiam acessar a superfície facilmente. Passamos por uma estrutura de janelas imensa que dava pra ver a luz do sol, subimos escadas, passamos por algumas lajes... Incrível!

Infelizmente não tenho fotos sub deste mergulho, apenas estas de superfície. Mas basta fechar os olhos e lembrar do mergulho que o "filme" passa na mente. :)

O log deste mergulho foi:

Local: Usina submersa - Itapura (SP)
Profundidade: 10m
Tempo de fundo: 45minutos
Visibilidade: 6m
Temperatura da água: 26°C
Temperatura ambiente: ~36°C

Este com certeza entrou na lista dos melhores mergulhos que já fiz! E como já senti o gostinho, pretendo voltar pra lá mais vezes para conhecer o restante dos pontos.

Agradecimentos especiais:
Paulo Longo - Instrutor de mergulho
Moisés Eustáquio Oliveira - Fotos

Para mais informações sobre os mergulhos na região, entre em contato pelo e-mail info.hidrofilia@gmail.com.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Reconhecendo o grupo Gorgônia

(Por Daniele R. Serra)

É comum fazer confusão entre organismos. Isso é verificado principalmente para Gorgonias e Algas marinhas. A dificuldade de diferenciação entre esses organismos ocorre pois a arquitetura das gorgônias se assemelha a arquitetura de algumas algas. Pérez (2003) fala que antigamente naturalistas classificavam gorgônias e até outros corais como plantas. Na foto, exemplar de gorgônia "Orelha de Elefante" fotografado por Theo Costa em Arraial do Cabo (RJ-Brasil) em Novembro/2011.

Gorgonias são animais que pertencem ao grupo dos cnidários, grupo dos corais. As gorgonias são seres coloniais, exclusivamente marinhos, quase sempre encontradas em águas rasas, mas podem estar presentes em locais profundos. Como a maioria dos corais, gorgonias apresentam esqueleto que podem ser flexíveis ou não. Geralmente com formato de plantas, são coloridas, assemelham-se a candelabros e/ou plumas (Ruppert et al. 2005). Existem três tipos básicos de ramificação em gorgônias: 1.  reticulado, 2. pinado,  e 3.  alternado (Figura1). Esses padrões de ramificação ocorrem de diversas formas (Sánchez, 2004).

Figura 1. A - Ramificação alternada; B - ramificação pinada; C e D - ramificação reticulada. Fotografias retiradas de Sánchez, 2004.

As gorgonias apresentam esqueleto calcítico, que serve de estrutura de sustentação para a colônia. Os pólipos são conectados uns aos outros por uma rede de canais. Seu esqueleto confere papel de construtor (Linares et al, 2005), pois após a morte, a superfície será colonizada por outros organimos incluindo, novos corais (Figura 2). 
Figura 2. B - Eunicea tayrona – colônia seca  (paquímetro aberto em 2 cm); C – canais externos, que são ocupados pelos pólipos. Fotos feitas por Carlo Cerrano, University of Genoa. Fotos retirados de Sánchez, 2009.


As gorgonias de águas rasas possuem zooxantelas (Russo et al, 1985), microalgas que podem viver em simbiose com corais, estas algas “dividem” energia proveniente da fotossíntese realizada por elas com as gorgonias. Mas além de obterem energia a partir das zooxantelas, gorgonias são filtradores, isso explica o formato desses organismos, quanto mais protuberâncias mais eficiente a filtração. Por isso, gorgonias aproveitam a movimentação da água posicionando-se perpendicularmente ao fluxo de água, sendo que outras podem crescer paralelas à corrente. Esses comportamentos são estratégias não só para obtenção de alimento e nutrientes minerais (Ca, Mg) e facilita a eliminação de resíduos para longe dos pólipos.
Gorgonias são organismos pouco predados, exceto os consumidos por organismos especialistas (moluscos, poliquetas e alguns peixes recifais). O número reduzido de ataques às gorgonias sugerem que estas produzem defesas químicas (Epifanio et al., 2000).
Por serem organismos sensíveis ao aumento de temperatura, gorgonias são bioindicadores de mudanças climáticas, havendo registro de mortalidade em massa no mar mediterrâneo nos anos 70 e 80 (Linares et al, 2005; Lejeusne et al, 2009). Essa variação de temperatura torna o indivíduo suscetível a infecções que podem causar a morte. Portanto, eventos de mortalidade em massa são importantes para detecção de riscos a diversas outras populações.

Em seguida algumas figuras de um grupo de gorgonias caribenhas que permitem perceber o hábito geral desses organismos. Todas as figuras incluindo as legenda foram retiradas de Sánchez, 2009.  
Figura 3. Fotos de gorgonias candelabro in situ. A:Eunicea pinta Bayer & Deichmann - Roncador Bank Colombia, 25 m; B: Eunicea palmeri Bayer - Roncador Bank, Colombia, 12 m; C: Eunicea succinea (Pallas) Bocas del Toro - Panama, 12 m; D: Eunicea laxispica (Lamarck) - fore-reef terrace, 20 m, Abaco, Bahamas (2000); E: Eunicea mammosa Lamouroux - Roncador Bank, Colombia, 12 m; F: Eunicea tourneforti Milne Edwards & Haime - Carrie Bow Cay, Belize, 8m; G: Eunicea asperula Milne-Edwards & Haime -  outer slope edge, Cat island, Bahamas (2001); H: Eunicea laciniata Duchassaing & Michelotti, shallow fore-reef, 10 m, Carrie Bow Cay, Belize (2001); I: Eunicea fusca Duchassaing & Michelotti - White Horse Reef, fore-reef, 20 m, Exuma Cays, Bahamas (2000).
Figure 4. A - Fotos de Eunicea tayrona sp. nov. Vista da colônia viva debaixo d'água -  Riding Rock Reef, Leeward terrace, 12 m, San Salvador, Bahamas, 15 August 1999. D -  Eunicea clavigera; vista subaquática de uma colônia viva - Riding Rock Reef, Leeward terrace, 12 m, San Salvador, Bahamas, 15 August 1999. As fotos da direita mostram o mesmo ramo com diferentes níveis e retração dos pólipos.
Figura 5. A: Eunicea calyculata (Ellis & Solander) - Serrana Bank, Colombia, 18 m; B: Eunicea knighti Bayer - Bocas del Toro Panama, 15 m; C: Eunicea pallida García-Parrado & Alcolado - Bocas del Toro, Panamá, 15 m; D: Eunicea ?exuosa (Lamouroux) -  Carrie Bow Cay, Belize, 12 m. Detalhes dos pólipos (Bocas del Toro, Panamá): E: Eunicea tourneforti; F: Eunicea laciniata; G: E. Calyculata; H: Eunicea clavigera; and I: Eunicea tayrona sp. nov.

Referências Bibliográficas

EPIFANIO, R. DE A.; MAIA, L. F. & FENICAL, W. 2000. Chemical Defenses of the Endemic Brazilian Gorgonian Lophogorgia violacea Pallas (Octocorallia, Gorgonacea). 584  J. Braz. Chem. Soc., Vol. 11, No. 6, 584-591.

LEJEUSNE, C.; CHEVALDONNE, P.; PERGENT-MARTINI, C.; BOUDOURESQUE, C. F. & PÉREZ, T. 2009. Climate change effects on a miniature ocean: the highly diverse, highly impacted Mediterranean Sea. Elsevier Ltd. All rights reserved. doi:10.1016/j.tree. 2009.10.009. Available online.

LINARES, C.; COMA, R.; DIAZ, D.; ZABALA, M.; HEREU, B. & DANTART, L. 2005. Immediate and delayed effects of a mass mortality event on gorgonian population dynamics and benthic community structure in the NW Mediterranean Sea. Mar Ecol Prog Ser. 305: 127–137.

PÉREZ, R. A. L. 2003. Los Corales, piedras, plantas o animales? Ciencia Ergo Sum, volume 10, número 1. Universidad autónoma del Estado de México - Toluca, México

RUPPERT, E. E.; FOX, R. S.; BARNES, R. D. 2005. Zoologia dos invertebrados: uma abordagem funcional-evolutiva. Sétima edição. Ed. Roca LTDA. São Paulo. 1145 p.  

RUSSO, A. R. 1985. Ecological observations on  the gorgonian sea  fan Eunicella cavolinii  in the Bay of Naples. Mar. Ecol. Prog. Ser. 24:  155-159.

SÁNCHEZ, J. A. 2004. Evolution and dynamics of branching colonial form in marine modular 2 cnidarians: gorgonian octocorals. Hydrobiologia 00: 1–8.

SÁNCHEZ, J. A. 2009.  Systematics of the candelabrum gorgonian corals (Eunicea Lamouroux; Plexauridae; Octocorallia; Cnidaria). Zoological Journal of the Linnean Society. 157: 237–263.