sexta-feira, 27 de abril de 2012

Conhecendo os Equinodermos

(Por Marcos Pelaes)

"... a descoberta de uma estrela-do-mar ou ouriço-do-mar encalhados, dois símbolos do mar, coloca a mente no limiar do maravilhoso. Equinodermos poderiam ser variações de corpos celestes que caíram do céu como extraterrestres, tão extraordinárias são sua forma e função." Trecho retirado do livro Zoologia dos Invertebrados, Sétima Edição. Foto: Echinaster brasiliensis (imagem de Theo Costa)

Não, equinodermos não são cavalos marinhos como me perguntaram um dia...

Foto: Oreaster reticulatus (imagem de Theo Costa)
Equinodermos são organismos predominantemente marinhos (já foram descritas cerca de 7.000 espécies) e são representados pelas classes Crinoidea (Penas do mar), Asteroidea (Estrelas do mar), Ophiuroidea (Serpentes do mar), Echinoidea (Ouriços do mar e Bolachas do mar) e Holothuroidea (Pepinos do mar).

Distribuição

Habitam todas as latitudes, desde a zona de entre-marés (zona sob influência do regime de marés) até fundos abissais (as regiões mais profundas dos oceanos). Entretanto, são mais abundantes nas regiões tropicais e menos nas zonas polares, apresentam locomoção limitada e são comumente encontrados agregados em alta densidade.  (HENDLER et al, 1995; RUPPERT et al, 2005). Alguns deles possuem adaptações para se fixar em substratos consolidados, como rochas e recifes de coral, outros vivem em meio a fundos lodosos, fundos arenosos e outros exibem ainda hábito epibionte (vivem sobre animais ou plantas). 


Alimentação

Possuem representantes em vários níveis da cadeia alimentar, incluindo detritívoros (que se alimentam de detritos despositados no substrato), filtradores (material em suspensão na água), raspadores (que se alimentam de micro-organismos aderidos ao substrato), necrófagos (animais mortos) e predadores ativos (HENDLER et al., 1995; RUPPERT et al, 2005).


Características gerais

Uma característica de todos equinodermos é a presença de pés ambulacrais, que são superfícies branquiais responsáveis pela troca gasosa (respiração) através do corpo do animal, mas que podem ser utilizados para locomoção, fixação ao substrato e alimentação. (RUPPERT et al, 2005). Outra característica marcante é a grande capacidade de regeneração dos equinodermos, que com o tempo recompõem partes do corpo que foram perdidas; além disso desprendem parte do corpo ou expelem órgãos internos em resposta ao estresse, principalmente causado por predadores.

Caracteres sexuais

A maioria dos organismos do grupo Equinodermata apresenta dimorfismo sexual (único sexo por indivíduo) mas não é possível reconhecer machos e fêmeas visualmente através de caracteres físicos externos. 

Caracterização geral das Classes de Equinodermos


Fotos: Oreaster reticulatus e Echinaster brasiliensis (imagens de Theo Costa)

Asteroidea

As Estrelas do mar, representantes mais famosos do grupo Equinodermata, são os animais que apresentam maior variedade de formas. Essa diversidade depende do comprimento e largura dos braços, que podem ser estreitos, largos ou ainda inexistirem. Além dos braços, o corpo desses animais pode ser achatado, almofadado, elevado ou esférico. Sua locomoção é feita através dos pés ambulacrais situados na região ventral do animal, onde está situada sua boca, que fica voltada para o substrato. Os pés ambulacrais ainda podem ser utilizados para levar o alimento até a boca (LAWRENCE, 1987; RUPPERT et al, 2005). Ocorrem em quase todas as latitudes e profundidades e ocupam uma grande variedade de substratos (HADEL et al. 1999). A maioria das estrelas do mar alimenta-se de animais vivos, especialmente pequenos moluscos, crustáceos, poliquetas, outros equinodermos e pequenos peixes. Sua reprodução pode se dar através de regeneração, reprodução clonal ou reprodução sexuada. A reprodução por regeneração é quando um novo organismo é gerado a partir de uma parte do animal que tenha se partido (um braço, por exemplo), geralmente de forma involuntária. A reprodução clonal ocorre quando um novo organismo é gerado a partir da divisão do disco (parte central do animal), ou seja, há divisão de um único indivíduo em duas partes e no final têm-se dois novos indivíduos e, geralmente, se dá de forma voluntária. A reprodução sexuada acontece quando gametas masculinos e femininos são liberados na água, onde ocorre a fertilização (RUPPERT et al, 2005).

Foto: Echinometra lucunter (imgem de Theo Costa)

Echinoidea

Os ouriços e bolachas do mar apresentam pouca diversidade quanto à forma.  São caracterizados por terem a parede do corpo composta por placas com espinhos móveis e não possuírem braços. São tradicionalmente divididos em dois grupos: regulares e irregulares. Os equinóides regulares (ouriços do mar) têm forma globosa, geralmente circular, mas podem ser ocasionalmente ovais e, algumas vezes, ligeiramente pentagonais. Os espinhos, sua principal característica, podem variar em número, tamanho, forma e estrutura (LAWRENCE, 1987); geralmente são encontrados em substratos consolidados, como rochas e recifes de coral. Nos ouriços do mar, os pés ambulacrais são distribuídos em faixas longitudinais alternadas pelo corpo. Sua locomoção é realizada através dos movimentos dos espinhos e dos pés ambulacrais e sua alimentação é constituída basicamente de algas, mas a maioria das espécies é generalista, com sua dieta constituída de vegetais e animais.

Os equinóides irregulares (bolachas do mar) são caracterizados por sua forma achatada e apresentarem pés ambulacrais distribuídos por todo corpo. Em contraste com os ouriços do mar, possuem espinhos curtos que são utilizados para locomoção em fundos de areia ou lama, onde são comumente encontrados. Alimentam-se principalmente de partículas depositadas no substrato (material orgânico) conforme cavam o sedimento. Todos os equinóides apresentam dimorfismo sexual e sua reprodução ocorre através da liberação dos gametas na água, onde ocorre a fertilização (HENDLER et al., 1995; RUPPERT et al, 2005).
Imagem bolacha do mar (Clypeaster subdepressus): Alvaro E. Migotto. Bolacha-do-mar. Banco de imagens Cifonauta. Disponível em: http://cifonauta.cebimar.usp.br/photo/4764/ Acesso em: 2012-04-24.

Holothuroidea

Os pepinos do mar  possuem características peculiares que os distinguem facilmente dos outros equinodermos, tendo sido em determinado momento classificados como vermes. Os pepinos do mar em geral têm corpo cilíndrico. Alguns podem apresentar as extremidades do corpo levemente elevadas (como U). Seus pés ambulacrais distribuem-se ao longo de todo o corpo, sendo o lado que se apóia no substrato chamado de superfície ventral, apresentando pés ambulacrais funcionais, e seu lado oposto de superfície dorsal, com pés ambulacrais reduzidos. A maioria das espécies de pepinos do mar apresenta hábito bentônico, mas podem ser encontradas espécies com hábito epibionte e pelágico. Em geral, pepinos do mar se alimentam de material em suspensão ou depositado sobre o fundo marinho. A maior parte de suas espécies apresenta dimorfismo sexual e sua reprodução se dá através da liberação de gametas na água, onde ocorre a fertilização  (RUPPERT et al, 2005). Imagem pepino do mar (Holothuria grisea): Alvaro E. Migotto. Pepino-do-mar. Banco de imagens Cifonauta. Disponível em: http://cifonauta.cebimar.usp.br/photo/8072/ Acesso em: 2012-04-24.

Ophiuroidea 

As serpentes do mar são os mais rápidos dentre os equinodermos, uma de suas principais características. São organismos principalmente crípticos, ou seja, podem ser encontrados escondidos sob, sobre ou entre pedras, conchas, organismos vivos e sedimentos. Estão adaptados a uma grande variedade de modos de vida, e por isso quase nunca são vistos. Esses organismos podem ainda viver em simbiose com esponjas, corais, crinóides e bolachas da praia. Apesar de apresentarem pés ambulacrais, estes não possuem ventosas e raramente são usados para locomoção, sendo esta executada através dos movimentos dos braços. Os ofiuróides podem se alimentar de animais vivos ou mortos, de depósitos no substrato ou ainda de material em suspensão. A reprodução das serpentes do mar, assim como nas estrelas do mar, pode se dar através de regeneração e reprodução sexuada, embora algumas espécies possam ser hermafroditas (apresentam gônadas masculinas e femininas) e outras vivíparas (quando os ovos são incubados e o desenvolvimento  se dá dentro da mãe até que seja atingido o estágio jovem) (RUPPERT et al, 2005). Imagem Ofiuróide (Amphipholis squamata): Alvaro E. Migotto. Ofiuróide. Banco de imagens Cifonauta. Disponível em: http://cifonauta.cebimar.usp.br/photo/4252/ Acesso em: 2012-04-24.


Chrinoidea 

As penas do mar possuem hábitos sedentários ou movimentos vagarosos e são caracterizados por apresentarem longos braços em forma de penas. Fixam-se ao substrato através de um pedúnculo e se alimentam filtrando a água com seus pés ambulacrais localizados em seus braços. Diferentemente dos demais equinodermos, vivem com a boca voltada para cima, facilitando sua alimentação, uma vez que se alimentam principalmente de partículas em suspensão. Vivem geralmente em águas rasas e são comumente encontrados em comunidades de recifes de coral. Apresentam grande capacidade de regeneração e esta é uma de suas formas de reprodução, sendo a principal delas a reprodução sexuada. Em crinóides não há reprodução clonal, como nas estrelas do mar e ofiúros (RUPPERT et al, 2005).
Fotos: Tropiometra carinata (imagens de Theo Costa)


Referências Bibliográficas



HADEL, V.F.; MONTEIRO, A.M.G.; DITADI, A.S.F.; TIAGO, C.G.; TOMMASI, L.R. Echinodermata. In: Migotto, A. & Tiago, C.G. (eds.) Biodiversidade do Estado de São Paulo, Brasil: síntese do conhecimento ao final do século XX. Parte 3: Invertebrados marinhos, p. 261-271, 1999.


HENDLER, G., MILLER, J.E., PAWSON D.L. & Kier, P.M. 1995. Sea stars, sea urchins, and allies: echinoderms of Florida and the Caribbean. Washington: Smithsonian Institution Press. 391p.

LAWRENCE, J. M., 1987. A functional biology of echinoderms. The John Hopkins University Press, Baltimore, Maryland.

RUPPERT, E.E.; FOX, R. S.; BARNES, R.D.; 2005. Zoologia dos invertebrados – Uma abordagem funcional-evolutiva. São Paulo: Editora Roca, 7ª ed., 1145 pp.

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