quarta-feira, 18 de abril de 2012

Reconhecendo o grupo Gorgônia

(Por Daniele R. Serra)

É comum fazer confusão entre organismos. Isso é verificado principalmente para Gorgonias e Algas marinhas. A dificuldade de diferenciação entre esses organismos ocorre pois a arquitetura das gorgônias se assemelha a arquitetura de algumas algas. Pérez (2003) fala que antigamente naturalistas classificavam gorgônias e até outros corais como plantas. Na foto, exemplar de gorgônia "Orelha de Elefante" fotografado por Theo Costa em Arraial do Cabo (RJ-Brasil) em Novembro/2011.

Gorgonias são animais que pertencem ao grupo dos cnidários, grupo dos corais. As gorgonias são seres coloniais, exclusivamente marinhos, quase sempre encontradas em águas rasas, mas podem estar presentes em locais profundos. Como a maioria dos corais, gorgonias apresentam esqueleto que podem ser flexíveis ou não. Geralmente com formato de plantas, são coloridas, assemelham-se a candelabros e/ou plumas (Ruppert et al. 2005). Existem três tipos básicos de ramificação em gorgônias: 1.  reticulado, 2. pinado,  e 3.  alternado (Figura1). Esses padrões de ramificação ocorrem de diversas formas (Sánchez, 2004).

Figura 1. A - Ramificação alternada; B - ramificação pinada; C e D - ramificação reticulada. Fotografias retiradas de Sánchez, 2004.

As gorgonias apresentam esqueleto calcítico, que serve de estrutura de sustentação para a colônia. Os pólipos são conectados uns aos outros por uma rede de canais. Seu esqueleto confere papel de construtor (Linares et al, 2005), pois após a morte, a superfície será colonizada por outros organimos incluindo, novos corais (Figura 2). 
Figura 2. B - Eunicea tayrona – colônia seca  (paquímetro aberto em 2 cm); C – canais externos, que são ocupados pelos pólipos. Fotos feitas por Carlo Cerrano, University of Genoa. Fotos retirados de Sánchez, 2009.


As gorgonias de águas rasas possuem zooxantelas (Russo et al, 1985), microalgas que podem viver em simbiose com corais, estas algas “dividem” energia proveniente da fotossíntese realizada por elas com as gorgonias. Mas além de obterem energia a partir das zooxantelas, gorgonias são filtradores, isso explica o formato desses organismos, quanto mais protuberâncias mais eficiente a filtração. Por isso, gorgonias aproveitam a movimentação da água posicionando-se perpendicularmente ao fluxo de água, sendo que outras podem crescer paralelas à corrente. Esses comportamentos são estratégias não só para obtenção de alimento e nutrientes minerais (Ca, Mg) e facilita a eliminação de resíduos para longe dos pólipos.
Gorgonias são organismos pouco predados, exceto os consumidos por organismos especialistas (moluscos, poliquetas e alguns peixes recifais). O número reduzido de ataques às gorgonias sugerem que estas produzem defesas químicas (Epifanio et al., 2000).
Por serem organismos sensíveis ao aumento de temperatura, gorgonias são bioindicadores de mudanças climáticas, havendo registro de mortalidade em massa no mar mediterrâneo nos anos 70 e 80 (Linares et al, 2005; Lejeusne et al, 2009). Essa variação de temperatura torna o indivíduo suscetível a infecções que podem causar a morte. Portanto, eventos de mortalidade em massa são importantes para detecção de riscos a diversas outras populações.

Em seguida algumas figuras de um grupo de gorgonias caribenhas que permitem perceber o hábito geral desses organismos. Todas as figuras incluindo as legenda foram retiradas de Sánchez, 2009.  
Figura 3. Fotos de gorgonias candelabro in situ. A:Eunicea pinta Bayer & Deichmann - Roncador Bank Colombia, 25 m; B: Eunicea palmeri Bayer - Roncador Bank, Colombia, 12 m; C: Eunicea succinea (Pallas) Bocas del Toro - Panama, 12 m; D: Eunicea laxispica (Lamarck) - fore-reef terrace, 20 m, Abaco, Bahamas (2000); E: Eunicea mammosa Lamouroux - Roncador Bank, Colombia, 12 m; F: Eunicea tourneforti Milne Edwards & Haime - Carrie Bow Cay, Belize, 8m; G: Eunicea asperula Milne-Edwards & Haime -  outer slope edge, Cat island, Bahamas (2001); H: Eunicea laciniata Duchassaing & Michelotti, shallow fore-reef, 10 m, Carrie Bow Cay, Belize (2001); I: Eunicea fusca Duchassaing & Michelotti - White Horse Reef, fore-reef, 20 m, Exuma Cays, Bahamas (2000).
Figure 4. A - Fotos de Eunicea tayrona sp. nov. Vista da colônia viva debaixo d'água -  Riding Rock Reef, Leeward terrace, 12 m, San Salvador, Bahamas, 15 August 1999. D -  Eunicea clavigera; vista subaquática de uma colônia viva - Riding Rock Reef, Leeward terrace, 12 m, San Salvador, Bahamas, 15 August 1999. As fotos da direita mostram o mesmo ramo com diferentes níveis e retração dos pólipos.
Figura 5. A: Eunicea calyculata (Ellis & Solander) - Serrana Bank, Colombia, 18 m; B: Eunicea knighti Bayer - Bocas del Toro Panama, 15 m; C: Eunicea pallida García-Parrado & Alcolado - Bocas del Toro, Panamá, 15 m; D: Eunicea ?exuosa (Lamouroux) -  Carrie Bow Cay, Belize, 12 m. Detalhes dos pólipos (Bocas del Toro, Panamá): E: Eunicea tourneforti; F: Eunicea laciniata; G: E. Calyculata; H: Eunicea clavigera; and I: Eunicea tayrona sp. nov.

Referências Bibliográficas

EPIFANIO, R. DE A.; MAIA, L. F. & FENICAL, W. 2000. Chemical Defenses of the Endemic Brazilian Gorgonian Lophogorgia violacea Pallas (Octocorallia, Gorgonacea). 584  J. Braz. Chem. Soc., Vol. 11, No. 6, 584-591.

LEJEUSNE, C.; CHEVALDONNE, P.; PERGENT-MARTINI, C.; BOUDOURESQUE, C. F. & PÉREZ, T. 2009. Climate change effects on a miniature ocean: the highly diverse, highly impacted Mediterranean Sea. Elsevier Ltd. All rights reserved. doi:10.1016/j.tree. 2009.10.009. Available online.

LINARES, C.; COMA, R.; DIAZ, D.; ZABALA, M.; HEREU, B. & DANTART, L. 2005. Immediate and delayed effects of a mass mortality event on gorgonian population dynamics and benthic community structure in the NW Mediterranean Sea. Mar Ecol Prog Ser. 305: 127–137.

PÉREZ, R. A. L. 2003. Los Corales, piedras, plantas o animales? Ciencia Ergo Sum, volume 10, número 1. Universidad autónoma del Estado de México - Toluca, México

RUPPERT, E. E.; FOX, R. S.; BARNES, R. D. 2005. Zoologia dos invertebrados: uma abordagem funcional-evolutiva. Sétima edição. Ed. Roca LTDA. São Paulo. 1145 p.  

RUSSO, A. R. 1985. Ecological observations on  the gorgonian sea  fan Eunicella cavolinii  in the Bay of Naples. Mar. Ecol. Prog. Ser. 24:  155-159.

SÁNCHEZ, J. A. 2004. Evolution and dynamics of branching colonial form in marine modular 2 cnidarians: gorgonian octocorals. Hydrobiologia 00: 1–8.

SÁNCHEZ, J. A. 2009.  Systematics of the candelabrum gorgonian corals (Eunicea Lamouroux; Plexauridae; Octocorallia; Cnidaria). Zoological Journal of the Linnean Society. 157: 237–263.

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